Mário Filho e Nelson Rodrigues

(Acervo pessoal)

Pernambucanos de Recife, Mário Leite Rodrigues Filho (3 de junho de 1908 – 17 de setembro de 1966) e Nelson Falcão Rodrigues (23 de agosto de 1912 – 21 de dezembro de 1980) se mudam para o Rio de janeiro em 1916, com sua família (pai, mãe e mais 12 irmãos).

Fixaram residência à Rua Alegre, 135 (atual Almirante João Cândido Brasil), no bairro Aldeia Campista (bairro não-oficial, compreendido na região das ruas Gonzaga Bastos, Dona Maria, Maxwell, Pereira Nunes, entre outras). A Aldeia, inclusive, serviu de inspiração para Nelson escrever um de seus mais famosos romances: Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores (1959).

(Instituto Sérgio Rodrigues)

Nelson Rodrigues e Mário Filho, destacados, em foto de família nos anos 1930.

Ambos iniciam suas carreiras ao mesmo tempo no mesmo local: em 1926, no jornal A Manhã (de seu pai Mário Leite Rodrigues). Mário foi para a ainda pouca explorada área esportiva, e Nelson para a editoria policial.

Mário Filho dedicava páginas inteiras aos times cariocas. É considerado o pioneiro ao adotar uma abordagem mais direta e menos rebuscada na cobertura das partidas e na maneira como tratava os jogadores, procurando aproximação ao linguajar do torcedor.

Ao mesmo tempo, acumulando experiências e inspirações em suas coberturas policiais, Nelson Rodrigues começa a escrever seus textos e ensaios. A Mulher sem Pecado foi sua primeira peça e logo lhe rendeu certo prestígio no meio teatral da cidade.

Em 1931 Mário funda O Mundo Sportivo, considerado o primeiro jornal brasileiro inteiramente dedicado ao esporte, principalmente futebol e remo. Foi n’O Mundo que surgiu o que hoje é uma das maiores paixões do carioca.

Como no início de ano as competições esportivas rareavam, faltavam pautas para o jornal. O jornalista Carlos Pimentel sugeriu que fossem feitas entrevistas com os novos sambistas que pululavam no Rio. Mario Filho não só aprovou como logo pensou em algum tipo de disputa entre eles. Foi assim que, em 7 de fevereiro de 1932, dezenove escolas de samba desfilaram competindo, pela primeira vez, na Praça Onze.

Já repórter no Jornal O Globo, Nelson Rodrigues se torna muito amigo de Roberto Marinho. Trabalhou, primeiramente, no suplemento juvenil, editando e roteirizando versões em quadrinhos de famosas obras. Afastou-se um tempo para se tratar da tuberculose contraída, acumulando, ao retornar, também as críticas culturais do jornal, sobretudo de óperas.

Apaixonados por futebol, os irmãos eternizaram em duas sílabas um dos maiores clássicos do esporte: o Fla x Flu. Mário, flamenguista, promovia como ninguém na imprensa os embates entre os times. Nelson, tricolor, era quem melhor o descrevia, em suas antológicas crônicas publicadas no Jornal dos Sports.

Nelson Rodrigues ia fincando seu nome na história do teatro brasileiro. Estreou a revolucionária Vestido de Noiva com um estrondoso sucesso, lotando o Teatro Municipal, na década de 1940. Mostrava para o Brasil costumes e expressões da classe média carioca da época, ao mesmo tempo em que escrevia seus imortais romances e contos e se virava para driblar os censores já no regime militar.

Mário Filho, considerado por muitos o maior jornalista esportivo de todos os tempos, travava uma batalha, no final dos anos 1940, para trazer para o bairro, no terreno do antigo Derby Club, o estádio que seria palco principal da Copa do Mundo de 1950. A princípio, e por vontade do então vereador Carlos Lacerda, a vontade era que tal equipamento fosse construído em Jacarepaguá. Em sua homenagem, o Estádio Municipal do Maracanã ganhou, oficialmente, o nome de Estádio Mário Filho.

Os irmãos deixaram incontáveis obras como legado. Podemos destacar, de Mário Filho, o antológico livro O Negro no Futebol Brasileiro, de 1947, onde trata magistralmente a questão do futebol como esporte de elite.

Já de Nelson Rodrigues podemos citar A Vida Como Ela É…, conjunto de crônicas escritas de 1950 a 61.

In this article

Join the Conversation